Ideologias políticas esquecidas

O inconformismo cada vez mais se apodera das nossas consciências, aqui em Ermidas-Sado deparamo-nos com autenticas aberrações dentro daquilo que deveriam ser políticas de esquerda, alias, como se vem a apregoar desde o 25 de Abril.

Os casos de insuficiência infra-estrutural ou simplesmente a degradação inevitável das existentes são uma constante deste nosso quotidiano que parece esquecido pela tutela. Poderia aqui deixar uma nota sobre a praça onde hoje o comercio de fruta, leguminosas, peixe ou carne é seriamente prejudicado pelas degradantes condições do espaço, podia falar sobre um espaço cultural que não existe, um espaço para a pratica desportiva digna ou passar em revista todas aquelas ruas que não conhecem o sabor da dignidade e das suas condições mínimas de circulação, cidadãos condenados á pobreza sentimental e racional de quem os governa, cidadãos condenados a levar com a lama no inverno e o pó no verão, só e apenas porque a nossa “querida” câmara municipal acha que aquelas ruas não devem ser alcatroadas, pelo menos enquanto aquela força politica não dominar também aquele território.

Será doença…? Sr. Proença…?

O mais grave é que os tópicos que poderiam ser lançados aqui, são, diria quase inesgotáveis tal é a situação que se vive, em relação ao investimento publico por parte da autarquia, pois é dela a competência de transformar as pequenas comunidades locais, mas diria eu que no sentido do desenvolvimento e não da estagnação pois esta rapidamente se transforma em regressão devido ao facto de existirem variáveis naturais como por exemplo o desgaste das infra-estruturas. Ou não? Admito que podem ser apenas devaneios surreais de quem é oposição….mas não creio.

Contudo, e porque o verdadeiro assunto que me levou a criar esta espécie de contestação escrita, é a situação do jardim público. Um jardim sem vida, um jardim sem alegria, um jardim sem um olhar apenas, toda a nossa gente da dita classe política cega momentaneamente aquando de uma qualquer abordagem acerca da matéria.

Um jardim que foi esquecido, sim foi esquecido por todos, o que é lamentável. Um espaço verde desta envergadura, albergando varias arvores de grande porte uma área considerável de relva e pequenas plantas, é diria, o pulmão da vila. O jardineiro da junta de freguesia ocupa maioritariamente o seu horário laboral a tratar deste espaço que mesmo assim tem que ser preservado dentro das nossas possibilidades.

Mas quando, a infra-estrutura desportiva existente é abandonada, toda a periferia em passeio é retirada de forma barbara e nem se sonha quando poderá ser recolocada, o parque infantil corre o risco de encerrar pois o piso é de areia, o que dentro das térmites legais não se coaduna, e mais uma vez a resposta para a colocação de piso de borracha é nula e seriamente num acto de desprezo. Isto para não falar de um prédio diria eu devoluto na minha concepção mas não o é na forma burocrática actual é um facto, refiro-me ao antigo bar do jardim onde á primeira vista se pode observar que a zona contigua, dita esta, que representa nada mais, nada menos que o único local publico de saneamento publico para todos, ao que por ironia do destino, talvez, as chuvas deste inverno se encarregaram de destruir parcialmente ou pelo menos incapacitar a infra-estrutura da sua função original, que julgo eu, ser algo prioritário para uma esquerda de confiança e que represente as necessidades de todos e principalmente as classes sociais mais baixas, as escolhas e as trajectórias político-ideológicas definem-se provavelmente e mais que em qualquer outras nestas situações, e a resposta que obtivemos foi mais uma vez, a do esquecimento.

O bar propriamente dito, é talvez a situação mais delicada de todo o espaço que diz respeito a este jardim hoje e mais do que nunca, fantasmagórico. Um bar capacitado de resolver a desertificação nocturna do espaço, dotado da capacidade de estimular a actividade cultural e desportiva do espaço, capaz de responder um pouco mais às necessidades de convívio dos jovens que por aqui ainda vivem, e julgo que eles serão uma peça fundamental do desenvolvimento local, que neste momento lhes foram retiradas as ainda escassas oportunidades de se sentirem jovens.

Mas não pode ser, temos que acabar com o jardim e com o seu bar, pois o local está a potenciar a marginalidade, os conflitos geracionais e sobretudo o consumo de drogas.
Este sempre foi e julgo que será o discurso do Partido Socialista aqui sob a tutela da junta de freguesia, e também do Partido Comunista sob a tutela da câmara municipal, a situação actual do espaço é como não poderia de deixar de ser o resultado da estática deliberada da junta de freguesia desde á alguns anos atrás e refiro-me atodos os membros do executivo sem excepção pois nunca ninguém se mostrou com a vontade real de requalificar o espaço ou somente não permitir o seu encerramento (bar), ao que a câmara agradeceu
.
Será com um sério sentido de dificuldade e adversidades ao nível do poder decisório, que o Bloco de Esquerda, se irá empenhar como se tem empenhado na resolução de todos estes problemas, e dizer sem medo que é a favor da reabertura do bar do jardim já, da requalificação de toda a sua extensão e de uma política que vá ao encontro das necessidades de todos e não, só de alguns. Continuaremos sozinhos nesta luta se assim as outras forças o decidirem, mas estaremos certamente onde temos que estar.

No fim-de-semana o jardim foi alvo de actos de vandalismo durante a noite onde foram destruídos bancos e algumas árvores, e para concluir pergunto: quem devemos responsabilizar? Quem destruiu algo por sua vez já destruído, abandonado, esquecido e desprezado, ou quem tem o poder de inverter a dinâmica do espaço e transformar algo fantasmagórico e medonho num espaço digno, diversificado, amistoso e capaz de responder ás necessidades do povo ou pura e simplesmente aniquilar por completo a génese deste inconformismo que se revela sob a forma de vandalismo?

Bruno Candeias

Invadir o domínio

O Bloco de Esquerda continua a crescer no município de Santiago do Cacem e a prova está nos resultados obtidos nas autárquicas, onde uma série de pessoas de maior ou menor idade apostaram numa esquerda de confiança.

Contudo, e sendo realista ou simplesmente analisando números, estamos ainda longe daquilo que seria o objectivo. E é nesta linha de trabalho, de luta e de combate que começaram já alguns movimentos de proximidade, com um público-alvo especial: os jovens!

Os jovens do Bloco de Esquerda do concelho de Santiago do Cacem, tomaram a iniciativa de intervir activamente junto das massas juvenis, nas escolas secundárias do concelho, criando iniciativas de varias índoles imaginárias.

O objectivo é comum, criar uma espécie de “boom” juvenil, num concelho amorfo, onde a reivindicação seja a ordem do dia e que de pequenos grupos de pares, desabroche a planta revolucionaria que por sua vez se auto-polvorize e liberte o máximo de sementes reaccionárias.

Constata-se uma predisposição ideológica com a linha que traçamos, mas a sustentação activista está em declínio, o que de modo algum poderá continuar a acontecer, todos juntos iremos trabalhar arduamente no sentido de dizermos: estamos cá, juntem-se e todos vamos fazer a revolução! Parece utópico, é verdade, mas confio plenamente numa acção positiva, e que a grande tarefa da consciencialização das massas passe também e necessariamente por aqui…

Depois de uma gesticulação ate curta, a decisão foi tomada e partimos para o centro do maior aglomerado populacional do concelho, passando também pela sua “capital do capital”, basicamente uma sede de concelho á vista desarmada contagiada pelo consumismo em prol do status, digno de uma das melhores teorias capitalistas municipais.

E fora ai mesmo o ponto de partida…os caixotes do lixo ficavam com uma estrelinha ensopada de um liquido viscoso que a mantinha visível, os mais curiosos regateavam á esquina, mas seria na escola que teríamos a maior surpresa, umas dezenas de estudantes muito sociáveis e que nos deram alento para continuar a jornada.

Uma jornada, na cidade desconhecida, onde por todo o lado se ouvia uma voz politica, os cartazes invadiam as paisagens urbanas das linhas limítrofes do parque central e o seu interior, como se algo de clandestino se tratasse, um cheiro a estalinista pairava no ar, uma espécie de perseguição á distancia.

O toque de intervalo fazia-se ouvir, as batidas cardíacas aumentavam e surpreendentemente mais de uma centena de panfletos sucumbiram ao sol abrasador que nos iluminava á porta da secundária Padre António Macedo. Divergências??????? Uma …. Que falava em Jotas fantásticas, mas decerto com um sorriso encarnado a desvanecer.

Mais uma investida, e desta vez com som de rua a anunciar um concerto em sítio nenhum. A cidade fora acordada pelas palavras “irritantes” do locutor e peço desculpa se incomodamos alguém, mas assim demo-nos a conhecer, demo-nos á causa, demo-nos á população…

Quando a noite caiu, os sons do precariado ouviam-se debaixo de um candeeiro, de onde se destacava o ponto de referência, a luz brilhante do amplificador azul-turquesa. Mais parecia um concerto revolucionário em pleno estado novo!!!! O que significa algo mais do que aquilo que as nossas consciências avistam.(será mesmo?)

E o que nos reserva o futuro? Não sei. Mas tenho a certeza que ele será nosso, de todos nos, com a nossa luta, com a nossa vontade, com a nossa convicção…o futuro está nas nossas mãos!

Bruno Candeias

Festejar Abril em Ermidas-Sado

 
Passados 36 anos, desde a revolução dos cravos, Ermidas-Sado comemorou o 25 de Abril, com um desejo que tal evocação á democracia, possa de grosso modo, ser o elo de ligação entre a emancipação juvenil e a nostalgia dos que se libertaram do regime.

Comemorações estas, que foram assumidas de corpo e alma por aqueles que desejam, a manutenção da actividade desportiva e cultural com um toque de festim, como motores do desenvolvimento local.

Depois de uma longuíssima demora (algo como vários anos), dezenas de jovens e menos jovens reviveram aquele que é o espírito inevitavelmente revitalizante, de participar no torneio de futebol salão, que era algo que estava na raiz identitaria de todos nós, e um torneio onde tudo acontece…mas deixem-me dizer que foram semanas de magia, competição, amizade, euforia, alegria e tristeza, que certamente permanecerão na memoria de muitos.

Ficamos a saber um pouco mais acerca do que foi a revolução, assim como todo o processo posterior, a partir de depoimentos de indivíduos exteriores ao país, mas, certamente muito atentos a todos os acontecimentos.

E seria através de um pequeno ecrã, que pouco mais de uma dezena de pessoas, puderam reflectir acerca das imagens e sons, de um pais embriagado num sonho momentâneo (visualização do filme: “Outro Pais”), de onde a viagem temporal fora bastante célere até á actualidade, sempre com uma interacção desinibidora, que desde logo transformara o publico e apresentador num só.

A revolução trouxe de facto algumas melhorias ao quotidiano de alguns, pena é que seja só para alguns. E cinjo-me á música como substancia cultural potenciadora da criatividade, da qual vários jovens, filhos de uma tutela camarária que lhes rejeita um mísero apoio, salvaguardando artistas da elite, a desejaram criar e oferecer ao povo.

A luta foi e é inglória, mas não o fim, e mesmo sob as adversidades do underground oferecido por uma ocupação obrigatória, a arte deu á luz uma noite preenchida pelas notas rockeiras, ofuscando uma centena, “um povo que agradece na mesma”, o desprezo a quem luta diariamente e o esbanjar de dezenas de milhar de euros num só artista, simplesmente porque fica bem…

Os ruídos ensurdecedores dos foguetes e morteiros, lançados pelo sempre corajoso que para tal apenas deposita a sua vontade, faziam-se ouvir pela noite e pelo amanhecer como que um verdadeiro hino á historia.

As crianças apresavam-se, o atletismo ia começar…um momento brilhante onde a competição mais uma vez aliada ás praticas saudáveis, se transformou numa manhã de alegria, onde também os graúdos tiveram o seu momento, dos 4 aos 90, o alcançar da meta foi uma constante de coragem e determinação.

O Zeca já se ouvia por entre as folhas sorridentes de um jardim que havia ressuscitado por alguns dias, para assistir de entre tantas coisas, a um convívio abrasador de uma tarde de domingo com nome de liberdade, onde também ao som de baile, muitos não deixaram de dar um pezinho.

Já alguns preferiam assistir atentamente ao chiquilho, que haveria de ser a grande entretenga de uma tarde memorável.

Um arco-íris de actividades, conjugadas sob o direito á liberdade e á felicidade ou simplesmente ao sonho. E poderia sonhar apenas com a dignidade e respeito para com estes cidadãos, á sua actividade desportiva e cultural, até porque para já o sonho ainda não é pago, pré-requisitado ou até decidido por outrem.

Será certamente a nossa forma de encarar o futuro, com esperança e a sonhar que com toda a dedicação, empenho e determinação, que tais comemorações poderão certamente evoluir exponencialmente, num galope sob vários sentidos do enquadramento das mesmas.

Viva Abril !!

Bruno Candeias

A minha perspectiva

“A democracia perfeita só pode existir numa sociedade de anjos”. J.J.Rousseau

Camaradas, não será de anjos que vos lhes vou falar, mas sim de um poeta.

Um poeta que poderá criar um movimento de convergências á esquerda, essencial na estrutura politica portuguesa. A democracia de Rousseau não a conseguirá alcançar certamente, ao que por outro lado, se todos nós acreditarmos que é possível unir metade dos portugueses, assistiremos a uma grande festa da democracia.

Pensemos que, se Manuel Alegre se tornar presidente da república, estará a representar maioritariamente uma fragmentação ideológica que nos habituou a uma vitória da direita conservadora ou de candidatos improváveis.

Manuel Alegre, penso que será o único capaz de derrubar um Cavaco pré-histórico, e fundamentalmente uma direita, invisivelmente apoiada por socialistas que têm pactuado no sentido daquilo que observamos em nosso redor, um espectro politico degradado e corrompido por assimetrias inexplicáveis do ponto de vista da justiça social e anestesiado por um capitalismo tóxico mortal…

Manuel Alegre, abrirá a sela democrática em que a esquerda portuguesa se aprisionou durante um tempo demasiado longo, atento nesta questão apenas porque creio ser um passo em nome da reorganização politica e dos portugueses.

E os ingredientes são os necessários: um poeta que considero ser de uma índole humanista e justa; homem que se atreveu a lutar contra os seus camaradas, em matéria de discriminações, justiça económica ou simplesmente no código de trabalho; e fundamentalmente um homem aberto aos problemas sociais que vivemos, determinado a combate-los.

Diz-se que esta será a reedição de 1986, não creio. Algo me leva a crer, que o PC não entrará com candidato próprio, e consciente apoiará Alegre, assim como o PS de contrariado o apoiará, ao mesmo tempo que a esquerda reaccionária, (mas que tormento….!?!?). Teremos, isso sim um Cavaquismo sólido e frio, apoiado por indivíduos sigilosos do sistema, envolvidos pelo capote cor-de-rosa do quotidiano.

Resta-nos um Nobre homem, de causas humanitárias, e disso direi que o congratulo e mérito lhe acrescentarei. Já no que toca a politica, surge sob um arco-íris ideológico e saltitando põe a pata na poça da monarquia, (mas que azar…!?!?).

Estratégia falhada…Soares que o lançou, poderia em tempos aniquilar Alegre e a esquerda que tanto odeia, mas o feitiço voltou-se contra o feiticeiro e talvez Cavaco ou a ala conservadora o temam agora.

Portanto com estratégias Cavacosoaristas, a direita, arrisca-se a finalmente criar condições para que vença uma candidatura supra-partidaria, definida por uma esquerda bastante Alegre.

Bruno Candeias