Festejar Abril em Ermidas-Sado

 
Passados 36 anos, desde a revolução dos cravos, Ermidas-Sado comemorou o 25 de Abril, com um desejo que tal evocação á democracia, possa de grosso modo, ser o elo de ligação entre a emancipação juvenil e a nostalgia dos que se libertaram do regime.

Comemorações estas, que foram assumidas de corpo e alma por aqueles que desejam, a manutenção da actividade desportiva e cultural com um toque de festim, como motores do desenvolvimento local.

Depois de uma longuíssima demora (algo como vários anos), dezenas de jovens e menos jovens reviveram aquele que é o espírito inevitavelmente revitalizante, de participar no torneio de futebol salão, que era algo que estava na raiz identitaria de todos nós, e um torneio onde tudo acontece…mas deixem-me dizer que foram semanas de magia, competição, amizade, euforia, alegria e tristeza, que certamente permanecerão na memoria de muitos.

Ficamos a saber um pouco mais acerca do que foi a revolução, assim como todo o processo posterior, a partir de depoimentos de indivíduos exteriores ao país, mas, certamente muito atentos a todos os acontecimentos.

E seria através de um pequeno ecrã, que pouco mais de uma dezena de pessoas, puderam reflectir acerca das imagens e sons, de um pais embriagado num sonho momentâneo (visualização do filme: “Outro Pais”), de onde a viagem temporal fora bastante célere até á actualidade, sempre com uma interacção desinibidora, que desde logo transformara o publico e apresentador num só.

A revolução trouxe de facto algumas melhorias ao quotidiano de alguns, pena é que seja só para alguns. E cinjo-me á música como substancia cultural potenciadora da criatividade, da qual vários jovens, filhos de uma tutela camarária que lhes rejeita um mísero apoio, salvaguardando artistas da elite, a desejaram criar e oferecer ao povo.

A luta foi e é inglória, mas não o fim, e mesmo sob as adversidades do underground oferecido por uma ocupação obrigatória, a arte deu á luz uma noite preenchida pelas notas rockeiras, ofuscando uma centena, “um povo que agradece na mesma”, o desprezo a quem luta diariamente e o esbanjar de dezenas de milhar de euros num só artista, simplesmente porque fica bem…

Os ruídos ensurdecedores dos foguetes e morteiros, lançados pelo sempre corajoso que para tal apenas deposita a sua vontade, faziam-se ouvir pela noite e pelo amanhecer como que um verdadeiro hino á historia.

As crianças apresavam-se, o atletismo ia começar…um momento brilhante onde a competição mais uma vez aliada ás praticas saudáveis, se transformou numa manhã de alegria, onde também os graúdos tiveram o seu momento, dos 4 aos 90, o alcançar da meta foi uma constante de coragem e determinação.

O Zeca já se ouvia por entre as folhas sorridentes de um jardim que havia ressuscitado por alguns dias, para assistir de entre tantas coisas, a um convívio abrasador de uma tarde de domingo com nome de liberdade, onde também ao som de baile, muitos não deixaram de dar um pezinho.

Já alguns preferiam assistir atentamente ao chiquilho, que haveria de ser a grande entretenga de uma tarde memorável.

Um arco-íris de actividades, conjugadas sob o direito á liberdade e á felicidade ou simplesmente ao sonho. E poderia sonhar apenas com a dignidade e respeito para com estes cidadãos, á sua actividade desportiva e cultural, até porque para já o sonho ainda não é pago, pré-requisitado ou até decidido por outrem.

Será certamente a nossa forma de encarar o futuro, com esperança e a sonhar que com toda a dedicação, empenho e determinação, que tais comemorações poderão certamente evoluir exponencialmente, num galope sob vários sentidos do enquadramento das mesmas.

Viva Abril !!

Bruno Candeias